Sem Embargo publica notícia de Francisco Assunção, correspondente da Lusa e da Antena1 na Alemanha.
Em causa está um empréstimo de meio milhão de euros que um empresário amigo do presidente lhe emprestou em condições favoráfeis, com juros mais baixos do que os do mercado, e um outro empréstimo mais tarde contraído por Wulff, também a juros inferiores aos do mercado, junto do banco público de Baden-Wuerttenberg, para pagar a dívida anterior. Wulff terá telefonado ao diretor do Bild, durante uma viagem oficial ao Golfo Pérsico, ameaçando cortar relações com o referido jornal, se as notícias em questão fossem publicadas.
A Presidência da República recusou-se a comentar os relatos saídos hoje nos jornais alemães, limitando-se a dizer, através de um porta-voz, que o Chefe de Estado não revela o conteúdo de telefonemas particulares. Por seu turno, o Bild comunicou que Wulff telefonou de facto ao diretor, sem divulgar, no entanto, o teor da conversa.
Segundo o Suedeutsche Zeitung e o Frankfurter Allgemeine, não se terá tratado de uma conversa, mas sim de uma mensagem gravada por Wulff no atendedor automático de Diekmann, que estava ausente em viagem nos EUA, em que o presidente terá dito que o jornal tinha "passado as marcas, e se quiser guerra, tê-la-á". Além disso, o político democrata-cristão terá ameaçado recorrer aos tribunais, se o Bild revelasse pormenores sobre o seu empréstimo bancário particular. A edição eletrónica do semanário Der Spiegel diz hoje também que Wulff telefonou igualmente ao diretor-geral da editora Springer, Matthias Doepfner, a pedir-lhe que travasse Diekmann, mas o gestor recusou fazê-lo. A Springer não confirmou hoje o telefonema de Wulff, e a versão do Der Spiegel, e disse que não tenciona fazê-lo mais tarde.
Pressionado pelos notícias sobre a forma como obteve o empréstimo, Wulff apresentou desculpas públicas antes do Natal, numa intervenção televisiva, em que afirmou, no essencial, que "nem tudo o que é legal é inteiramente correcto".
A chanceler Angela Merkel disse na ocasião não ter mais nada a acrescentar às justificações do Chefe de Estado, reiterando a sua confiança. A oposição, porém, continua a exigir que Wulff dê mais explicações sobre o caso, embora tenha afastado a hipótese de pedir a demissão do Chefe de Estado.
O presidente da associação dos jornalistas alemães, Michael Konken, juntou-se hoje ao coro das críticas a Wulff, condenando a alegada tentativa do político de influenciar a imprensa. "A primeira figura do Estado tem obrigação de saber, melhor do que ninguém, que as personalidades da vida pública têm de se sujeitar a uma imprensa crítica", disse Konken.
O deputado Erwin Lotter, do Partido Liberal (FDP) exigiu, entretanto, a demissão de Wulff, embora não seja esta a posição oficial deste partido do governo federal, que já exigiu à oposição que pare com as críticas ao presidente. O deputado social-democrata Sebastian Edathy não foi tão longe como o seu colega liberal, mas acusou Wulff de se "envolver cada vez mais em contradições, e pôr em causa a sua credibilidade", atributo fundamental do chefe de Estado alemão, que tem quase exclusivamente funções representativas.
FA
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